segunda-feira, 21 de novembro de 2011
O meu coração diz que não
Hoje a minha querida M chegou à mesa para jantar e eu senti que ela estava entre o excitada e o gozona, com vontade de testar limites... tentei fingir que não via, para a coisa fluir, mas o rabo sempre de fora da cadeira, as brincadeiras para evitar comer, o pai a começar a ferver... mas conseguiu-se chegar ao fim do jantar sem explosões. Depois, vestir o pijama, escorregadia, a dizer que não, mas sempre dengosa e a rir-se, um bocadinho provocadora. Estava gira, é verdade, mas depois de um bocado, quando se quer agilizar a coisa, começa a irritar. O T desiste e eu, a dar mamas, avanço mais um bocadito. Uma história a mãe, uma história o pai. Está quase pronta, só falta mais uma parte: lavar os dentes e xi-xi. Faz-se pesada, mas lá vai com o pai enquanto deito o R. Chego lá e vejo que aquilo não está fácil. Fujo. Encontram-me na cozinha. Não quer lavar os dentes, é com a mamã... mas não aceitei: -"desculpa, mas não, vais lavar os dentes com o pai". Ela ri-se e agarra-se às minhas pernas divertida, mas eu já não estou divertida e estou a perder o humor. Não quero conversas, mas ela insiste. Começa a fazer barulho, o mano dorme. Pego-a ao colo até à casa-de-banho num impulso daqueles, sento-a no chão à minha frente, agarro-lhe na carinha com firmeza para ela olhar para mim e digo-lhe, furiosa, que ela vai parar com aquilo. Ela fica a chorar e lava os dentes com o pai. Vou lá ter, já cheia de remorsos, claro, pois sei que fui bruta. Agarra-se a mim e fazemos as pazes. Dizemos-lhe que não gostamos que ela faça isso. Ela diz que não faz mais. Digo-lhe que não gosto de ser assim bruta com ela. Vamos para a caminha. Ela diz que a magoei quando lhe agarrei a cara, "que a apertei". Peço-lhe desculpa se a magoei, mas digo-lhe que acho que não a magoei (pelo menos por fora...). Agarramo-nos como sempre, mas o meu coração está pequenino. Dá-me um beijinho, peço eu. Estou a dormir, diz ela. Está bem, já percebi... digo-lhe que a adoro e dou-lhe beijinhos. Fico a vê-la adormecer... tão rápida. Sei que às vezes temos de ser firmes, mas há uma linha tão ténue entre a firmeza e a brusquidão. O T diz: "tem de ser", mas assim, desta forma, o meu coração acha que não...
"O Comedouro" ou "tudo o que não se deve fazer na alimentação dos seus filhos"
Os meus filhos são lindos, fofinhos e deliciosos, não podiam ser mais, mas claro, não podiam ser perfeitos. Então, quer um, quer outro não foram ou são bebés fáceis de alimentar. Com as mamocas é tudo ouro sobre azul, mas quando se passa para a colher é que o caldo azeda. Com a M eu estava super entusiamada, achava que devia ser espectacular dar de comer, o que rapidamente descobri não ser verdade. A minha fofinha não gostou da mudança e eu tentei fazer tudo, mais ou menos (porque não me é muito natural), "by de book", respeitando a introdução dos alimentos (mais ou menos) e nos tempos previstos. Ela não gostava, mas eu achava que ela tinha de comer, então, com muito amor, carinho e paciência empurrava-lhe gentilmente as colheradas para dentro da boca. Ou seja, obrigava-a a comer até ela ficar chateada. Até ao dia em que ela percebeu que podia cuspir e desde esse dia deixou de funcionar e passei a ter de aceitar o que ela comia. Não me orgulho de ter insistido, mas como eu acreditava que era o melhor para ela, fazia-o. Felizmente agora, a M come de tudo e bem (não sou nada exigente em quantidades!), mas fez greve à sopa durante um largo período e aos dois anos recomeçou a comê-la. Com o R quis fazer tudo melhor. Já não tinha a certeza quanto aos benefícios de "obrigar" a comer, por isso, não queria ir por esse caminho. Mesmo que eu quisesse, acho que ele não me ía deixar, pois é um poço de sensibilidade (tal como a M era e é, mas neste assunto acho que ele leva mais a peito). Confesso que por duas vezes ele estava a chorar de boca aberta e eu enfiei umas colheradas para ver se pegava... ele cuspiu tudo, sujou-se todo e, o pior, ficou muito sentido comigo. Mas desta vez, com o R, eu tinha lido algures que o leite materno, até um ano de idade, é o principal alimento, então estive muito relaxada... e preguiçosa. Pois se não havia sopa, dava mama, se havia visitas e confusão, dava mama, se íamos à rua, mama dava, e por aí adiante. Quando estava quase a chegar ao ano senti-me um bocadito tensa, pois ía a Lisboa ver a família ("tão pequenino que ele está?"; "parece um passarito", "o que é que o médico disse?") e também ía à consulta de um ano (não tem percentil de peso!). Então comecei a fazer um esforço enorme, tentando dar menos mama e sendo menos preguiçosa na preparação dos alimentos. Resultado: o R ficava muito irritado e a comida não era comida à mesma, eu ficava angustiada e triste e claro que acabava sempre por dar mama. Passado este período de tensão e com as sábias palavras da minha querida doula na cabeça (palavras essas que ecoavam no meu coração), voltei a relaxar, dando-lhe maminha sempre que quer, mas esforcei-me e esforço-me todos os dias para lhe dar de comer. É difícil, mas acho que cada vez mais ele vai gostando, só que sempre em quantidades de passarinho. E falando em pássaros e visto que ele não aguenta muito tempo sentado, arranjei um novo método não recomendado nos livros de pediatria, de certeza: o comedouro. O R e a M gostam de andar à volta da mesa quando acabam, por isso, quando o R passa pelo comedouro (uma espécie de prateleira que há ao nível dos olhos dele, quando ele está em pé) vai lá buscar uma migalhita do jantar e segue caminho... e é assim! Há que ser criativo...
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