Anda realmente complicado escrever. Agora estou na sesta dos meus bebés e entre visitas, por isso apresso-me a escrever, porque se não aproveito, só para a semana. E tanto para contar… começo pelas… "férias das férias".
Eu e os meus dois rebentos abalámos do sul, sem o pai, que teve que ficar a trabalhar, e fomos para o Norte, trás-os-montes, para a terra da minha avó e da minha mãe. Para tal, fizemos uma pausa de uma noite na casa da titi e aproveitámos para ver amigos de Lisboa (encontrámo-nos na Gulbenkian. Não foi muito combinado, por isso adorei, parecia a minha festa de anos) e depois fomos todos juntos (nós, os titios e os primos) para a “terra”. A viagem Lisboa-Peleias pareceu uma odisseia. Saímos tardíssimo, porque da casa da minha mana sai-se sempre tarde, e depois as pausas para o R e a M arejarem. A M já se aguenta muito bem, mas o R não gosta nada. Então, quando ele se chateia faço uma pausa de pelo menos uma hora e meia para comer, brincar, esquecer o carro e depois retoma-se a viagem. Claro que isto para mim não é difícil, vou ao ritmo deles e já está. Fico aflita quando o R chora muito e não posso parar. Quando dormem acelero. Mas a família dos tios e primos apanha uma grande seca. Mas chegámos, por volta das duas da manhã, até já me doía a cabeça de ir tão concentrada a conduzir à noite naquela estrada-serpente interminável.
Estivémos uns dias em que nos banhámos no rio, em que a M e o R aproveitaram os miminhos dos primos e dos tios e em que eu também pude aproveitar os meus queridos sobrinhos. Depois eu e os meus filhotes fomos para o Andanças, onde nos íamos encontrar com a grande amiga da M, a A e respectiva família. Mas… quando estamos mesmo a chegar, recebemos a notícia de que a carrinha deles avariou e que não sabem quando, ou mesmo se, vão conseguir chegar. A M aguentou-se bem à notícia. Estavam os dois contentes, o R e a M, de estarmos ali os três a relaxar, naquele ambiente salpicado de músicos e pessoas a pastar na relva.
Montámos a nossa tenda, passeámos, jantámos e dormimos os três. Foi na tenda à noite, antes de dormir, que tive uma zanga com a M, que foi o único ponto baixo desta aventura a três. Ela estava um bocadito provocadora, não me dava a lanterna, e o R já dormia. Eu, apesar de querer estar forte e calma, estava um bocadinho ansiosa com a nossa primeira dormida na tenda com o pequeno R e sem o pai. De repente, quando olho para ela, está em cima do mano (que dormia sem reparar). Senti aquela violência que de vez em quando dispara no meu interior, peguei nela e pu-la no outro lado da tenda e comecei a ralhar. Passou. A seguir olho (porque estava escuro como o breu e só de vez em quando, com o frontal, é que conseguia ver o que se passava na tenda) e está novamente em cima dele. Eu não queria acreditar, senti a ira a chegar outra vez, peguei nela, quase que voou, enfiei-a dentro do saco-cama, dei-lhe uma seca furiosa e susurrante (para não acordar o R) sobre como confiava nela e que assim já não o podia fazer mais, como é que ela era capaz de fazer uma coisa destas, que eu estavamuito zangada, etc. Por dentro estava a ferver. Deitei-me com fúria e apaguei a luz. A M não disse nada em todo o meu discurso, até parecia estar com vontade de rir. Menos de cinco segundos passaram e agarrei-a, acendi a luz e consegui conversar com ela sem interferência dos nervos. Ela disse que não tinha visto o mano, mas disse-o a rir, por isso, nunca terei a certeza, mas preferi acreditar nela. Pedi-lhe desculpa por ter ficado tão doida e ela pediu-me desculpa também. Abraçámo-nos e beijámo-nos. Demorei a adormecer, mas acabei por conseguir. O pequeno R acordou a meio da noite e chorou intensamente, como poucas vezes fez desde que é mais crescido. Não queria mama, não queria nada. Saí da tenda e ele acalmou-se imediatamente. Acho que era o fantasma da minha agressividade interior que por ali andava. Depois deve ter fugido, porque dormimos bem o resto da noite. No dia seguinte, depois de brincar, falar com pessoas e saber que a A já não viria, regressámos a Lisboa onde voltámos a dormir na titi e no dia seguinte voltámos para o sul e ao pai que morria de saudades. Adorei esta aventura a três, excepto o momento da ira na tenda, pois não gosto de senti-la, sobretudo com os meus bebés. Desde que o R nasceu já aconteceu algumas vezes com a M, em situações em que o quis proteger. Parece o instinto de uma leoa a proteger a cria. Mas a minha cria mais velha também quer protecção, por isso não gosto que ela sinta esta minha fúria. Mas é assim, faz parte de mim. Felizmente não aparece muitas vezes… No outro dia, estava em ponto de rebuçado porque estavam os dois a chorar muito alto e ao mesmo tempo. Tentei cantar para afastar a ira, mas não resultou. Comecei a refilar, mas não queria fazê-lo por isso disse-lhes aos dois que ía ao quarto para não me zangar. Cheguei lá, mandei com raiva os chinelos contra a parede e dei um grito. Apetecia-me abrir a janela e correr pelo campo, mas o amor que lhes tenho é um íman e voltei para junto deles. Ainda refilei um bocadito, mas consegui acalmá-los a eles e a mim. E aqui fica registado o meu mau feitio, para aqueles que acham que eu sou um poço de paciência com os meus filhos. Também comigo ela se esgota e fico uma chata. Mas depois vem a bonança e o poço volta a encher e é só amor e abraços. Às vezes pergunto à M: “-Sabes que eu te amo sempre, mesmo quando me zango?”. Ela diz que sim. Ainda bem.
Esta viagem com os dois, fez-me bem, senti-me forte. Eles fazem-me sentir assim, que consigo enfrentar tudo, especialmente o medo, que fica com menos espaço na minha vida. É boa essa sensação. Mas adorei regressar ao lar e ao meu querido T, que tanta falta nos faz a todos.
Obrigada R e M, por serem tão espectaculares e aguentarem estas viagens de carro todas como gente grande, quase sempre felizes e contentes. Adoro-vos.
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