quarta-feira, 11 de abril de 2012

Pedido de desculpas

Eu comecei a escrever neste blog para aprender a lidar melhor com a culpa que sentia e sinto relativamente a comportamentos meus no relacionamento com os meus filhos.No início da maternidade a dobrar foi quando senti mais culpa por não conseguir dar tanto aos dois como queria, por ter de dividir-me. Não foi só a M que teve de aprender a fazê-lo, eu também e acho que nos custou às duas. Antes do R nascer, eu tinha receio de não o poder amar tanto como à M, hoje sei que é possível, mal saiu de mim, fez aquele beicinho de sentido que ele tem e apaixonei-me. O que mais me custou foi perceber que a minha paciência tinha diminuido, especialmente com a M, que já era crescida (coitadinha, tinha apenas 2 anos e 8 meses, mas parecia-me tão grande...). Quando o R nasceu, dei muita atenção à M, tentava dar de mamar a brincar, brinquei com os pontos do parto ainda a fazerem doer, cheguei a ir ao parque com ela, na primeira semana, e deixei o R em casa com o pai (ele estava a dormir). Queria estar presente na vida dos dois a todos os momentos. Claro que me dei conta que era impossível e comecei a tentar que cada um tivesse direito aos seus momentos, o R também precisava dos momentos dele. A M não gostou e eu nem sempre tive a paciência que gostaria de ter tido. Ela por vezes chorava, andava agarrada às minhas pernas, perseguia-me, gritava. Eram momentos breves ao longo dia dia, mas quando surgiam, abalavam-nos a todos. Acho que eu e o T podiamos ter lidado melhor com isso. Acho que tivemos medo e pressa que as coisas voltassem ao normal. Acho que foi nesta fase que me enfureci mais vezes com a M, que a agarrei algumas vezes com força para que ela fizesse o que eu queria (como por exemplo, deitar-se para dormir, ou não fazer barulho para não acordar o mano, etc). Agora que o R já tem ano e meio tudo isso me parece tão exagerado e pouco compreensivo. Sempre soube pedir-lhe desculpa após esses "piores momentos", mas seria melhor que não tivessem acontecido. Ou não... fez parte da minha aprendizagem. A verdade é que o cansaço não ajuda. Noites mal dormidas dão mães mais irritáveis e à flor da pele e nesse estado nem sempre é possível encontrar boas soluções para os conflitos. Às vezes só queremos acabar com eles "imediatamente" para a nossa cabeça acalmar. Mas "imediatamente" é uma palavra que não serve as crianças, pelo menos as minhas, que têm um tempo e um ritmo só delas e que se precisam gritar, precisam, não vão deixar de o fazer porque não dá jeito, para isso já cá estamos nós, os crescidos, constantemente a engolir emoções. E todas estas emoções expostas, por vezes, não são fáceis de aguentar, especialmente para o T. E o casal ressente-se porque há tanto em se discorda para além do amor. Há uns tempos li uma frase de uma amiga que dizia mais ou menos isto: o que mais nos repugna nos outros existe em nós, por isso nos "choca" tanto. E aquilo encaixou-me na perfeição. O que mais me custa no convívio com o T é a sua falta de paciência, sobretudo para "ouvir" emoções descontroladas. Eu, por vezes, também sinto essa impaciência, essa irritabilidade e odeio sentir isso em mim. E quando o vejo no T, vejo-o em mim, funciona como um espelho. Mas sei que é possível melhorar. Passado um ano e meio sinto-me mais calma, mais paciente. Sei que os meus filhos me têm ensinado muito e acho que esta vida mais próxima da natureza e mais longe do stress também tem ajudado. Por isso sinto-me feliz de saber que não somos seres imutáveis e que podemos evoluir e superar-nos. Acho que a M e o R valem todo o esforço e eu e o T também. Por isso, no outro dia, disse à M que achava que devia ter tido mais paciência com ela, depois do R ter nascido. E que também gostava de não lhe ter impingido comida quando ela não queria. E que gostava mesmo muito de não a ter tentado ensinar a dormir sozinha na caminha dela quando ela tinha 9 meses (na melhor das intenções, porque ela ía para a escola e eu não queria que ela sentisse tanto a falta das minha mamocas e colo, pois sabia que lá não seria assim. O que eu não sabia é que eles se adaptam a cada situação e que era escusado tê-la feito sofrer eu...). Expliquei-lhe que ela tinha sido a minha primeira, que teve todos os mimos, brincadeiras e atenção do mundo, mas que também foi a minha/nossa cobaia. E pedi-lhe desculpa por esses piores momentos. E a M respondeu-me: "- Vocês estavam a crescer.". E nem mais, estávamos e estamos. E daqui a uns anos vou pensar mal de coisas que faço hoje, com certeza. Mas espero, pelo menos, ter aprendido uma coisa: a não deixar o medo calar a voz do meu coração. Porque o medo anda em todo o lado: dentro de nós, nos palpites dos familiares, amigos e estranhos que gostam de "minar" o medo por aí, sem más intenções, claro, mas porque também não sabem o que fazer com ele...

Conversas...

Eu estava aos pulos e a dançar e a M olhava-me fixamente, quase sem expressão. E perguntei-lhe: - A mãe é muito maluca, não é filha?/ (silêncio)/ - Gostas que a mãe dance? / M- Não./ - E que a mãe cante?/ M- Não. / - Como é que gostavas que a mamã fosse?/ (silêncio...) M- Como tu és.

Eu- Gostas das minhas maminhas?
R- (ri-se todo e diz que sim)
Eu- Gostas do meu cabelo?
R- (ri-se todo e diz que sim)
(o R adora mexer-me no cabelo, enrola-o nos dedos quando está a mamar ou quando está simplesmente ao colo, às vezes agarra-me os cabelos a dormir na cama e acorda-me com beijos na boca... é tão sexy!)