quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Porque devem os pais pôr os filhos a chorar? by Gordon Neufeld


"A ideia de fazer tudo para que os filhos sejam felizes, evitando que chorem, está ultrapassada. A teoria de disciplinar sem que a criança chore está desactualizada, diz Gordon Neufeld, psicólogo clínico canadiano que esteve em Portugal no final da semana.


“As crianças precisam da tristeza, da tragédia para crescerem. Precisam de ter as suas lágrimas”, defende. Nos primeiros meses e anos de vida, o “não” dito pelos pais ajuda a disciplinar, em vez de estragar a criança. “Estamos a perder isso na nossa sociedade, não admira que as crianças estejam estragadas com mimos. Afinal, elas são sempre as vencedoras”, continua o investigador que esteve em Lisboa a convite da empresa BeFamily, do Fórum Europeu das Mulheres, da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas e da Associação Portuguesa de Imprensa.
Na conferência sob o lema “Vínculos Fortes, Filhos Felizes”, Neufeld defende que só se atinge o bem-estar através da educação e que esta deve estar a cargo das famílias e não do Estado. E para garantir o bem-estar de qualquer ser humano ou sociedade é necessário preencher seis necessidades.
A primeira é o “aprender a crescer” e para isso há que chorar, é preciso que a criança seja confrontada, que viva conflitos, de maneira a amadurecer, a tornar-se resiliente, a saber viver em sociedade.
A segunda necessidade é a de a criança criar vínculos profundos com os adultos, estabelecer relações fortes. Como é que se faz? “Ganhando o coração dos filhos. É preciso amarmos e eles amarem-nos. Temos de ter o seu coração, mas perdemos essa noção”, lamenta o especialista que conta que, quando lhe entram na consulta pais preocupados com o comportamento violento dos filhos, a primeira pergunta que faz é: “Tem o coração do seu filho?”, uma questão que poucos compreendem, confidencia.
E dá um exemplo: Qual é a principal preocupação dos pais quanto à escola? Não é saber qual a formação do professor ou se este é competente. O que os pais querem saber é se a criança gosta do docente e vice-versa. “E esta relação permite prever o sucesso académico da criança”, sublinha Neufeld, reforçando a importância de “estabelecer ligações”.
E esta ligação deve ser contínua – a terceira necessidade –, de maneira a evitar problemas. Neufeld recorda que o maior medo das crianças é o da separação. Quando estão longe dos pais, as crianças começam a ficar ansiosas e esse sentimento pode crescer com elas, daí a permanente procura de contacto, por exemplo, entre os adolescentes com as mensagens enviadas por telemóvel ou nas redes sociais, muitas vezes, ligando-se a pessoas que nem conhecem, alerta o especialista.
O canadiano recomenda que os pais estabeleçam pontes com os seus filhos. Quando a hora da separação se aproxima, há que assegurar que o reencontro vai acontecer. Antes de sair da escola, dizer “até logo”; à hora de deitar, prometer “vou sonhar contigo”.  
Mas a separação não é só física, há palavras que separam como “tu és a minha morte” ou “tu és a minha vergonha”. Mesmo quando há problemas graves para resolver, a frase “não te preocupes, serei sempre teu pai” ajuda a lembrar que a relação entre pai e filho é mais importante do que o problema. Hold on to your kids é o nome do livro que escreveu e onde defende esta teoria.

A importância de brincar

A quarta necessidade a ter em conta para garantir o bem-estar dos filhos é a necessidade de descansar. Cabe aos adultos providenciar o descanso e este passa por os pais serem pessoas seguras e que assegurem a relação com os filhos.
As crianças precisam que os pais assumam a responsabilidade da relação, que mantenham e alimentem a relação, de modo a que elas possam descansar e, nesse período, desenvolver outras competências. Uma criança que está ansiosa pela atenção dos pais não está atenta na escola, por exemplo.
Brincar é a quinta necessidade a suprir. Não há mamífero que não brinque e é nesse contexto que se desenvolve, aponta Neufeld. E brincar não é estar à frente de uma consola ou de um computador; é “movimentar-se livremente num espaço limitado”, não é algo que se aprenda ou que se ensine. E, neste ponto, Neufeld critica o facto de as crianças irem cada vez mais cedo para a escola, o que não promove o desenvolvimento da brincadeira. “Os ecrãs estão a sufocar a brincadeira e as crianças não têm tempo suficiente para brincarem”, nota o psicólogo clínico que, nas últimas semanas, fez um périplo por vários países europeus, tendo sido ouvido no Parlamento Europeu, em Bruxelas sobre “qualidade na infância”.
Por fim, a sexta necessidade é a de ter capacidade de sentir as emoções, de ter um “coração sensível”. “Estamos tão focados em questões de comportamento, de aprendizagem, de educação; em definir o que são traumas; que nos esquecemos do que são os sentimentos. As crianças estão a perder os sentimentos quando dizem ‘não quero saber’, ‘isso não me interessa’, estão a perder os seus corações sensíveis”, diz Neufeld.
Em resumo, é necessário que os pais criem uma forte relação emocional com os filhos, de maneira a que estes sejam saudáveis. Os pais são os primeiros e são insubstituíveis na educação dos filhos e são eles que devem ser responsáveis pelo seu desenvolvimento integral e felicidade. Se assim for, estarão também a contribuir para o bem-estar da sociedade."
Texto retirado de http://lifestyle.publico.pt

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

PROCURA-SE: super mãe frustrada procura super filhos... para frustrar

Eu, como super mãe frustrada e assumida, que adoro ser mãe e sou mais feliz do que nunca desde que o sou e quero ter mais filhos (embora não me dêem conversa), procuro filhos maravilhosos e imperfeitos e peço-lhes, profundamente, talvez porque me foi inculcado um certo grau de que nada que faça de espectacular seja espectacular o suficiente, que amem os seus defeitos e se riam deles (eu aprendi tão tarde...) para que os assumam e não os escondam num canto da alma, para fingirem que são perfeitos.

Eu, que lhes peço interiormente isso, sou por vezes tão exigente e parece que me esqueço deste pedido tão importante. Porque às vezes dá jeito exigir, especialmente com os filhos mais velhos: "- Preciso que me ajudes"; "Assim não me estás a ajudar"; "Porque é que nunca estás satisfeita?"; "É difícil agradar-te, nada te serve!"; "Não faças isso, porque o mano imita-te"; e outras que tal.

Muitas vezes digo estas barbaridades e mais tarde peço desculpa e digo que não tinha razão. Mas lá vão ficando as résteas destes pedidos e destas exigências e destes comentários pouco tolerantes com o estado de ânimo de cada um (que tão difícil de respeitar é, por vezes), porque ainda que não queira realmente que o sejam, às vezes dava tanto jeito que fossem... PERFEITOS.

Vergonha

"Nunca tenhas vergonha de sentir medo ao pé de mim. Ao pé de mim, podes sentir tudo o que sentires, podes dizer-me o que souberes e quiseres, e pedir-me o que precisares. Se tiveres vergonha fazes de mim um pai horrível e matas-me um bocadinho." (em "O Filho de Mil Homens" de Valter Hugo Mãe)

Adorei estas palavras e sinto-as como minhas. O que não quer dizer que por duas ou três vezes, quando me saltou a tampa, não tenha dito enfurecida à minha querida M, quando ela fazia uma birra gigante em público: -"Não tens vergonha? Que vergonha, uma birra destas no meio da rua. Uma birra como se fosses um bebé".

Eu tenho vergonha de já ter dito coisas destas e outras do mesmo calibre e talvez pior. Fico contente que não seja "o prato da casa", mas quando se me revolta a cabeça e o espírito saem da minha boca coisas em que não acredito e que parecem umas facas, a tentar magoar. Que coisa tão estranha... querermos magoar quem amamos mais do que o mundo. Há coisas que nunca vou entender. Vou aceitando. Mas tenho sempre aquela esperança de aprender a ser melhor...

As coisas que a M diz...

A M diz e faz cada coisa mais gira... às vezes fico doida de felicidade e de riso ou simplesmente emocionada com as coisas que lhe saem de dentro e gostava de ser um gravador... mas não sou. Esqueço-me de imensas coisas, mas algumas lembro-me...

M- Mãe, a minha alma gémea é a A. Sabes porquê? Porque nós somos iguais. Ela, quando acorda tem remelas e eu também.

No outro dia a M desenhou uma porta numa folha e disse-me:
- Deste lado é a porta da casa, do outro lado da folha vou desenhar a parte de dentro da casa.

A M disse-me sobre a amiga S:
- Sabes, mãe, quando eu tiver um pintinho eu vou emprestá-lo à S para ela aprender a emprestar e ver se perde essa mania de não querer emprestar nada a mim e ao mano.

Sabes mãe, quando eu me casar com a A vamos todas nuas só com um véu e depois cantamos: "Toda nua só com um véu, só com um véu!"