sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Esta dor que me deu...

Hoje estou melodramática. Se tivesse o período (não o tenho desde que engravidei do R) de certeza que estaria naqueles dias que o antecedem. Sinto-me naquele dia do mês em que os nervos estão à flor da pele, em que estou profunda até às raízes.
Os meus filhos são maravilhosos. Disso não tenho dúvida nunca. Quero ser sempre ser melhor, por eles e por mim. Tenho aprendido muito sobre mim, ao ver o meu comportamento com eles. E tenho muito por aprender, muitas perguntas sem resposta. Cada dia descubro mais um bocadinho. E nem sempre o que vejo me agrada. Então tento aceitar e é tão difícil. E tentar aceitar não é desistir de ser melhor. Não! É só o primeiro passo para ser mais feliz. Hoje senti o bicho que vive dentro de mim a sair por causa de um gancho. Não propriamente por causa dele, mas porque a M chorou bem alto e desconsoladamente porque não gostava de se ver com ele. Atrasadas, mesmo muito, senti o bicho, mas não quero que ele apareça assim à frente deles, porque sei que é assustador. Eu só queria pôr o gancho porque tinha de pôr creme no olho dela e não queria pôr na franja, era tão simples... mas ela não se sentia bonita com ele, apesar de ter andado com ele toda a semana. Mas hoje não... E tem direito. Quantas vezes a roupa de que gosto tanto me faz sentir mal, sabe-se lá porquê. Mas eu também tenho direito de dizer que tem de ser, e que vai ter de o levar, para eu tratar da ferida. E posso dizê-lo convicta, segura, sem me exaltar. Mas isso só pode acontecer nos outros dias, neste dia do mês, em que o bicho anda à espreita, isso, que é aparentemente tão simples, não é nada fácil de fazer. Sinto o bicho e quero fugir e escondê-lo, mas ele quer mesmo sair. Mordo almofadas às escondidas (um truque de outra mãe, porque da última vez dei um pontapé na parede, também às escondidas, e acho que parti o dedo), ando de um lado para o outro furiosa, até que o bicho toma-me em gestos e em frases descontroladas: - "tira o gancho, assim já não tens porquê berrar... pára, por favor, por amor de Deus, eu não consigo ouvir mais... se não queres que eu cuide da tua ferida eu não cuido, é um problema teu, usaste o gancho todos os dias e fica-te bem, ficas linda de qualquer maneira... mas pára que eu fico doida". Claro que isto é acompanhado de uma voz desaustinada e um gesticular nervoso assustador. Claro que ninguém consegue parar e acalmar-se diante do monstro. Cabe-me a mim contê-lo. E finalmente controlo-o. Dou um abraço e um beijo e peço desculpa por ter gritado e ficado tão "doida" e logo a tempestade acaba...
Este bicho vive em mim, é verdade! Mas quero conhecê-lo melhor, quero ser amiga dele e quero que ele seja meu amigo e quero deixá-lo sair de mim para que se possa divertir, mas quero que encontremos os momentos certos. Quero ouvi-lo e saber de onde vem para melhor aceitá-lo. Quero que ele se canse enquanto corro, danço, grito no alto de um penhasco, qualquer coisa, para que não apareça aos meus filhos, porque ele mete medo. E eu gostava tanto que os meus filhos lidassem com os bichos que moram dentro deles de uma forma mais natural... tenho de aprender para que eles possam ver que é possível!
E depois, quando descarreguei toda a minha energia negativa sobre a forma daquele monstro, sinto-me leve e vazia e ouço uma música na rádio que me arrepia, uma voz que faz chorar e sinto toda esta dor que me deu... mas não é mau ter esta sensação, é libertadora...

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