Querida Mãe:
Eu já te vi por aí.
Eu vi-te a gritar com os teus filhos em público, vi-te a
ignorá-los no parque, vi-te a levá-los à escola antes de teres tomado banho, e
de calças de pijama por baixo do casaco.
Eu vi-te a implorares aos teus filhos, vi-te a suborná-los,
e a ameaça-los.
Eu vi-te a gritar feita louca com o teu marido, com a tua
mãe, e com o agente de polícia no cruzamento da escola.
Eu já te vi a correr com os miúdos de um lado para o outro,
a sujares-te no parque e a praguejares em voz alta depois de bateres com o
joelho na esquina da cadeira.
Eu vi-te a partilhares um leite achocolatado com um maníaco
de 4 anos. Vi-te a limpar o nariz dos teus filhos com os dedos e a limpa-los na
parte de trás das calças de ganga. Vi-te a correr com o teu bebé de 2 anos
pendurado na dobra do teu braço, para apanhares a bola que está a fugir para a
estrada.
Eu já te vi a ranger os dentes enquanto o teu filho gritava
contigo porque não queria ir à aula de piano, à natação, ou ao treino de
futebol. Eu vi-te a fechar os olhos e a respirar fundo depois de entornarem um
copo de leite inteiro em cima. Vi-te a chorar desesperada enquanto tentavas
tirar lápis de cera da tua melhor mala.
Eu já te vi na sala de espera do hospital. Eu vi-te no
balcão da farmácia. Vi-te com o teu olhar cansado e assustado.
Eu não sei se tinhas planeado ser mãe ou não.
Se soubeste desde sempre que querias pôr crianças neste
mundo, cuidar deles, ou se a maternidade te apareceu de surpresa.
Não sei se correspondeu às tuas espectativas, ou se passaste
os primeiros tempos como mãe aterrorizada porque tinhas imaginado que sentirias
o “amor materno” doutra forma.
Não sei se tiveste dificuldade em engravidar, se perdeste
algum bebé, ou se tiveste algum parto traumático.
Nem sequer sei, se concebeste o teu filho no teu ventre, ou
se o acolheste na tua família.
Mas eu conheço-te.
Eu sei que não alcançaste tudo o que querias na vida. Sei
que há coisas que nunca soubeste que querias até teres filhos.
Eu sei que, às vezes, pensas que não estás a dar o teu
máximo e que podias fazer melhor.
Eu sei que olhas para os teus filhos e te revês neles.
Eu sei que às vezes apetece-te atirar um candeeiro ao teu
filho adolescente, e atirar o de 3 anos pela janela.
Eu sei que há noites que, depois de deitar os miúdos, estás
tão exausta que só te apetece enrolares-te na cama a chorar.
Eu sei que há dias tão difíceis que só queres que acabem
depressa. Depois, na hora de ir para a cama os teus filhos abraçam-te e
enchem-te de beijinhos, e dizem o quanto gostam de ti, e de repente querias que
o dia durasse para sempre.
Mas nada dura para sempre.
Os dias terminam, e o dia a seguir é um novo desafio.
Febres, desgostos amorosos, trabalhos da escola, novos amigos, novos animais de
estimação e novas dúvidas. E todos os dias, fazes o que tens de fazer.
Vais trabalhar, ou ficas em casa pões o bebé no sling e
ligas o aspirador. Ou vais até ao jardim passear com ele.
Largas tudo para moderar uma discussão sobre de quem é a vez
de usar aquelas canetas especiais, para dar um beijinho ao óó da tua filha, ou
para conversar sobre qual é a cor do batom que a mãe do Pinóquio usava.
Eu sei que fazes guerras de cocegas em castelos de lençóis,
e que sabes de cor as histórias de, pelo menos, 8 livros ilustrados. Eu sei que
danças de forma ridícula quando vocês estão sozinhos. E que inventam canções
parvas sobre queijo, maus cheiros, ou ervilhas.
Eu sei que uma hora depois de deitares os teus filhos,
largas o que estás a fazer e vais cortar as unhas do mais novo. Sei que paras
de arrumar a cozinha, porque a tua filha te convidou para a festa de chá que
está a fazer com as bonecas, e faz questão que lá estejas.
Eu sei o que custou tratares dos teus filhos quando tiveste
aquela virose de 4 dias. Sei que comes os restos dos pratos deles, enquanto
arrumas a cozinha.
Eu sei que não contavas com muitas destas coisas. Sei que
não antecipaste amar alguém tão intensamente, ou andar tão cansada, ou ser a
mãe em que te vieste a tornar.
Pensavas que tinhas tudo planeado. Ou então, estavas perdida
e aterrorizada. Ias contratar a Nanny perfeita. Ou ias deixar de trabalhar e
aprender tudo sobre crianças.
Sei que não és a mãe perfeita. Por mais que tentes, e por
mais que te esforces. Tu nunca serás a mãe perfeita.
E isso, provavelmente, vai perseguir-te. Ou se calhar
fizeste as pazes com isso. Ou talvez nem nunca tenha sido um problema.
Eu sei que acreditas que independentemente do que fizeres,
poderias ter feito sempre mais.
A realidade é outra.
Não interessa o pouco que fizeste, no fim do dia os teus
filhos vão sempre amar-te. Vão continuar a rir para ti, e acreditar que tens poderes
mágicos que podes curar quaisquer coisas.
Independentemente do que acontecer no trabalho, na escola,
ou num grupo de amigos, tu fazes, sempre, tudo o que está e não está ao teu
alcance para garantir que no dia a seguir os teus filhos estarão tão felizes,
saudáveis e espertos quanto é possível.
Há um velho ditado iídiche que diz: “Há um filho perfeito no
mundo, e todas as mães o têm.”
Feliz ou infelizmente, não há pais perfeitos. Os teus filhos
vão crescer determinados a ser diferentes de ti. Vão crescer com a certeza de
que não vão pôr os seus filhos nas aulas de piano, de que vão ser mais brandos,
ou mais rigorosos, ou ter mais filhos, ou ter menos, ou não ter nenhum.
Um dia os teus filhos vão estar a correr como loucos na
igreja, a portar-se pessimamente no restaurante a fazer caretas para o lado, e
alguém vai passar e elogiar a tua família.
Uma certeza podes ter: não és perfeita!
E isso é bom. Porque na realidade, nem os teus filhos são
perfeitos. E ninguém no mundo se preocupa mais com eles do que tu, ninguém sabe
porque é que eles estão a chorar senão tu, ninguém percebe as piadas deles
melhor do que tu.
E já que ninguém é perfeito, tens de desempatar com 2
biliões de pessoas que estão em primeiro lugar execuo para concorrer à melhor
mãe do mundo.
Parabéns melhor Mãe do Mundo. Tu não és perfeita. És mais
que perfeita:
És tão boa mãe como o resto do mundo.
por Lea
Grover em Becoming a super mommy
adaptado por
Up To Lisbon Kids
GOSTO!
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